Empresas familiares devem driblar desafios na organização dos negócios

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Publicada em 20/07/2015


No Brasil, 98% das empresas são familiares, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, ainda de acordo com o instituto, a cada 100 empresas familiares ativas, apenas 30 chegam à segunda geração, e 15 à terceira.

Entre os principais fatores que contribuem para a descontinuidade das instituições familiares estão a dificuldade de lidar com questões emocionais nas tomadas de decisão, desavenças entre os sócios sobre quem comanda a empresa e discordância para expandir os negócios.

Na lida com os problemas cotidianos a sociedade familiar deixar claras as responsabilidades de cada um desde o início, bem como metas almejadas. “Deve-se estabelecer regras de comportamento comuns entre os sócios e esclarecer que tanto o ativo tangível (dinheiro) e o intangível (trabalho) têm o mesmo peso e nenhum sobrevive sozinho”, afirma o responsável pela Divisão de Finanças Corporativas, M&A e Governança Corporativa da consultoria Crowe Horwath, Francisco D’Orto Neto.

Boas práticas – Uma alternativa é criar práticas básicas de governança corporativa. As ferramentas de governança não servem apenas para grandes companhias, sendo indispensáveis para Micro e Pequenas Empresas (MPEs) que queiram organizar processos internos, cálculo de riscos, melhorar a transparência, contato com acionistas e investidores, além de definir regras que todos os funcionários deverão seguir, incluindo os donos.

Para estabelecer uma governança corporativa há quatro princípios: transparência, equidade (justiça), prestação de contas e responsabilidade corporativa. Os conceitos independem do porte da companhia.

A formação de conselhos, auditorias ou comitês também é importante e podem tranquilamente ser formados por pai e filho. Uma auditoria pode ser feita por outro parente que não aquele responsável pela tarefa no dia a dia. O importante é garantir o fluxo de informação. “Delimitar o peso de cada um dentro da companhia e suas funções é importante”, afirma o gerente de capacitação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Rodrigo Trentin.

Entrosamento no sangue – Apesar do desafio, não são poucos os casos de sucesso de empreendimentos tocados por parentes, que nasceram, cresceram e se tornaram referências pelo empenho dos sócios-familiares, com marcas sólidas e reconhecidas mundialmente, como o Grupo Fiat, Benetton e Salvatore Ferragamo, na Itália; da L’Oreal, Grupo Carrefour e Michelin, França; da Ford Motors Co e Wal-Mart, nos Estados Unidos; da BMW e Siemens, na Alemanha; da Samsung, Hyundai Motor e Grupo LG, na Coreia do Sul; entre outras. No Brasil os exemplos são a Votorantim, Casas Bahia e o Magazine Luiza.

Para as sócias (mãe e filha) da rede de franquias especializada em depilação Depyl Action, a receita certa é definida por respeito, confiança e tolerância. “As diferenças de personalidade existem, mas as sócias devem separar. É importante fazer uma simbiose entre trabalho e vida social”, afirma Danyelle Van Straten.

A empresa foi criada por Glaci Van Straten há 30 anos, quando inventou uma cera especial para depilação. Danyelle iniciou o trabalho com a mãe aos 14 anos. Juntas planejaram a expansão do negócio no formato franquia e hoje contam com 93 lojas (sendo quatro unidades próprias), em 24 Estados brasileiros. “Temos personalidades complementares. Minha mãe é uma empreendedora nata e eu executo. Sempre respeitamos nossas diferenças”, afirma Danyelle.

Uma vantagem competitiva que as empresas familiares bem-estruturadas têm é a forte identidade da marca construída ao longo do tempo, que os clientes sabem exatamente o que esperar dos serviços/produtos ofertados. Esse é o principal ativo deste tipo de companhia e deve ser preservado ao longo das gerações que comandarão o negócio. Pensando nisso, Danyelle já se prepara para assumir inteiramente os negócios da Depyl, já que sua mãe planeja se aposentar em cinco anos. Para este ano a empresa espera manter o aumento de 27% no faturamento registrado em 2014 e alcançar a marca de cem lojas até dezembro.

Preto no branco – Achar que não há necessidade de documentar todas as atribuições por conta do grau de parentesco é um erro. Isso aconteceu no restaurante que Vaneide Sacchetin abriu com a irmã.

A proposta era que ela entrasse com a mão de obra, ao passo que a irmã seria a sócia investidora. A sociedade não deu certo e no momento da separação ele percebeu que seus direitos como sócia não estavam assegurados em contrato. “Sai com uma mão na frente e outra atrás”, afirma Vaneide, que descobriu ter apenas 10% da empresa e não poderia vender sua parte para ninguém.

Segundo a assessora jurídica da FecomercioSP, Juliana Motta, todas as regras estabelecidas, como cláusulas, condições e divisão societária devem estar presentes no Contrato Social da empresa, assim que ela nasce. “Normalmente, a percentagem menor de participação é daqueles que entram como capital intelectual e o sócio majoritário, que entrou com o dinheiro, tem mais influência nas decisões. Mas tudo isso deve ser definido entre os sócios no momento de constituir o Contrato Social”, aponta.

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